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DIÁRIO DE BORDO

Quatro em Linha, entre Razão e Intuição

15/8/2018

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Como era de esperar, por termos anunciado que hoje seria oficialmente o último dia de gravações - emulando um pouco a edição do ano passado - tivemos uma data de entrevistas em carreiro. Foram quatro em linha. Estavam para vir já há alguns dias, mas entretanto meteram-se as férias e os afazeres. Chegaram então a Gabi Vilar e a sua irmã Sara Vilar, que trouxe consigo o namorado Paulino Garcia. A Gabi fora colega do Rodrigo cá no Porto mas já há muito que não se falavam. Como vieram os três em “pacote”, o reencontro foi cheio de um misto de velhas lembranças e novas estórias, claro, seguidas de uma cervejinha ali ao lado!

A Gabi lembra-se de cantar muita música tradicional. Lembra-se das lengalengas, e disse-nos que ainda hoje trabalha muito com esse tipo de material, como base para o espevitamento da criatividade dos públicos mais jovens. Lembrou-se de projetos em que participou enquanto estudava no Porto e cantou uma data de canções, para dali a nada estar a imitar os vendilhões que acompanhavam os sons das viagens que fazia, passando sempre por Campanhã: “Olha corta-unhas, canivetes, chocolates!”. A irmã, Sara (já a terceira do mesmo nome a aparecer no projeto), cantou um fado de que se lembra ouvir a mãe cantar lá na estufa das flores que têm na Póvoa de Varzim. Despachou-o de forma reverberante, com uma dicção clara e pronta, que nos surpreendeu. Teve de chegar o último dia para que nos calhasse um fadinho. Já do lado do público, a Gabi confirmava vivamente a memória de que a Sara cantava todos os dias as músicas que aprendia no infantário, por ordem, e sem interrupções. Caso alguém quisesse (ou tivesse mesmo) que ir dormir, e por isso ralhasse com ela para que se calasse, lá tinha o ciclo de canções que começar do início…

Já o Paulino, sentado ao piano, lembrou-se do pai. Resgatou da caixa de memórias uma marchinha que se lembra de este ter composto para uma peça de teatro lá no TEP (Teatro Experimental do Porto). Uma coisa simples - já por natureza própria, nostálgica - que guarda com gosto. A meio da entrevista perguntou-nos se poderia “praguejar”. Queria saber se, para responder devidamente a uma das perguntas da Sara, teria autorização para falar à Porto com a maior das autenticidades. É que cresceu no meio de ambientes vários em que o palavreado era sempre a aviar. Dissemos-lhe que estava completamente à vontade para arrancar, e lá arrancou com um saco de situações anedóticas que se lembra - com apenas três anos de idade - de ter vivido lá perto das Antas, onde diz que os palavrões, para além de vírgulas, têm claramente a sua utilidade linguística.

Com o piano deixado onde estava, continuou o Paulino a ser entrevistado, agora pelo Rodrigo. Debruçou-se sobre um conjunto de campos harmónicos, com alguma resolução melódica, que interpretou, estendendo-os tematicamente, ao passo que, em tempo real, nos explicava o que estava a acontecer com o material. O Paulino gosta muito de improvisar ao piano. Gosta de harmonizar melodias simples com o seu saber-fazer jazzístico; de as recontextualizar uma, duas, três vezes e mais alguma. Algo que sabe fazer muitíssimo bem, entre a razão e a intuição. Fez uso de números que encontrou anexados a algumas das notas e lá desenvolveu maneira de - entre transposições, sobreposições e outras operações - sacar quatro recomposições do bolso. Havia um quinto, com mais limitações, mais regras, imposições, e por isso preferiu não tocar nesse, e explicou porquê. Prefere a liberdade de poder ir para onde a música o levar, no momento, fortuitamente, pois se houver regra que castre, sente que não vale a pena.

De volta à Gabi, que tinha estado durante este tempo todo a vigiar as lonas atentamente, esta montou pela primeira vez uma performance em ensemble, para contrariar a onda individualizante das entrevistas um a um. Por ter estado também a olhar para o outro lado da rua, incumbiu-nos de interpretar uma frase que viu escrita naquele cartaz muito fixe que figura plantas: “Every square meter of the earth”, sem saber que ele mesmo tinha pertencido a uma exposição da Galeria do Sol! Guiando-se por um plano paramétrico que tinha encontrado logo no início da lona do Porto, assumiu a frase como que um haiku. Falou-nos da forma geral do que tinha em mente, ensaiou-nos e ficou tudo gravado à segunda.

Já a Sara escolheu um gráfico em que a unidade se dividia inúmeras vezes por dividendos de 2 a 11. Utilizou essas proporções para inventar um bordão, que o Rodrigo se ofereceu para cantar infinitamente, e em relação a este, ir subindo e descendo com a voz carregada de energia, batendo um por um, todos os pontos que estipulara, uns em relação aos outros, mais altos ou mais baixos. Foi no final desta série de gravações que nos apareceu à porta o Gabriel Mendes, mais conhecido por Gabi von Dub. Entrou recentemente em contacto connosco sobre os diários, e daí a conversa trouxe-o cá, mas como hoje foram muitas entrevistas e estamos estafadíssimos, escreveremos sobre a dele amanhã, que já se faz tarde.
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    Autores

    Rodrigo B. Camacho
    Sara Rodrigues

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