TAXONOMIA ​O ESTADO DAS COISAS
  • sobre
  • about
  • diário
  • diary
  • contactos
  • contacts

DIÁRIO DE BORDO

Cancela Aberta

7/8/2018

Comentários

 
De manhã fomos à praia para nos encontrarmos com as gaivotas, por indicação do Afonso que nos visitou ontem. Lá estavam elas numa rocha - ao contrário do mencionado por muitos músicos - silenciosas. Fomos para mais perto para ver se conseguíamos sacar-lhes algum som. A Sara filmava e o Rodrigo, com o gravador, foi se aproximando delas. Eventualmente começou a emitir algo parecido com aquilo que fazem. A páginas tantas uma começou a responder-lhe, guinchando e palreando, já a ficar chateada com a conversa. Não parecia estar a gostar da proximidade e, com olhar mortífero, decidiu levantar voo com umas tantas que a seguiram. O céu enchia-se então de gaivotas e guinchos numa sinfonia com o qual ficámos os dois maravilhados, era mesmo isso.

À tarde voltámos para o espaço e tivemos mais visitantes do que nunca. O Tomé apareceu para mais um episódio do esvaziamento gradual do Sol mas, para contrariar a festa da banana, hoje as entrevistadas foram todas mulheres! Mal chegámos à nossa rua favorita, lá estavam a Mila Dores e a sua mãe à Porta da CCOP. Pareciam um pouco perdidas, porém estavam no lugar certo! Conversámos sobre o projeto enquanto o equipamento se preparava para mais um dia de trabalho. Quando uma pausa deu aso ao pontapé de partida, seguimos para bingo: "vamos gravar?". A Mila, um pouco confusa, pergunta-nos: “mas e... é... agora?". Tinha ficado com a impressão de que hoje iria apenas aclimatizar-se ao ambiente que embebe a gravação, que se faria depois. Não há problema! Marcámos para Sábado. Foi passar um "quality time" com a mãe, que todos concordámos ser muito importante nos dias que correm.

De seguida apareceu a Sara Rafael com o seu bébé Korg bem aconchegado dentro duma camisola. Passámos um bocado a ver como ligaríamos tudo, sendo que não é sempre que nos aparece um bicho electrónico a tomar conta de tudo o que é instrumento e cabo cá no espaço. Fomos testando algumas formas de ter tudo a funcionar em circuito e entretanto foi-se-nos clareando a solução ideal. Viemos a perceber por fim que nos faltava um cabo jack, então fomos pedi-lo ao Francisco que nos resolveu a situação em três tempos. Obrigado Babo!

Quando a Sara (Ro), perguntou à Sara (Ra) pelo som mais marcante o Porto, esta disse-nos que era a luz do fim do dia na Passos Manuel. Agora temos de nos desembaraçar desta... Uma Luz que é som... vai ser interessante a sinestesia que se segue. Hoje perdemos o por do sol mas vamos tentar apanhá-lo amanhã. Já na "Taxonomia" a Sara escolheu um fragmento com um esquema que dizia "When do musicians play?”, com as iniciais “BH” pelo meio. Questionou-se sobre o que poderia aquilo dizer e, como sempre, o Rodrigo, em vez de ajudar, serviu apenas para atiçar a sua imaginação em regime de liberdade radioativa. Com o seu banco de samples, a Sara apresentou-nos a seguinte proposta: "isto são cinco músicos jazz que, depois de um concerto a durar três horas, foram todos tomar um duche (BH = banho?) em conjunto". Tocou-nos a sua versão do que seria uma "water music" bem curtida e foi-se depois embora.

Cá nos chegou a Rita Braga, que afinal era amiga da Sara de Lisboa, e tinham combinado aparecer no mesmo dia. Também a convidámos ao espaço no evento da Sonoscopia, foi uma noite em cheio! Tínhamos-lhe falado do projeto, mas uma pequena reconstituição dos básicos é sempre bem vinda. A explicação ia a meio e nisto, de cancela aberta, aparece-nos o Zé à porta com uma amiga. Esta perguntou- nos o que estávamos a fazer e por isso a explicação serviu para as duas. A Rita cantou e tocou, desta vez não ao ukulele mas ao piano. Partilhou connosco um tema que sairá no seu novo álbum já em setembro, quando se mudará para Londres, onde vivemos. Descobrimos que, como vai estudar para a Goldsmiths, vai passar a ser nossa vizinha! Por falar na Goldsmiths, chegaram hoje de Lisboa o Francisco e o seu amigo Mark, que também lá estudaram. Fomos jantar com eles mas foi difícil encontrar algo vegetariano, por isso acabámos por comer um bacalhau assado aqui perto. Bem bom, mesmo que um pouco salgado.

De volta à Rita, mandou-nos ir gravar mais gaivotas, desta vez à Rua do Sol 69 e de seguida interpretou um plano estrutural da peça "Monkey Business" que a Sara e o Rodrigo criaram em colaboração. Fê-lo de duas formas. Primeiro, decidiu dar silêncio à trama política de que o trabalho trata, e por isso pregou-nos um "trecho" da 4'33'' do John Cage. Em segundo lugar, como estava ao piano e o fragmento incluía o instrumento a representar a instituição burocrática, espetou-nos a "Für Elise" do Beethoven, referenciando- a como música de espera para serviços públicos. Uma interpretação oblíqua e muito bem recebida!

Mesmo antes de fecharmos as grades, houve algo de muito importante a acontecer: chegou o rolo das LONAS! FOGO, parecia que aquela m**** nunca mais nos caia nas as mãos! O Rodrigo ainda não as desenrolou, pois antes disso ainda há que limpar o chão muito bem. Mas já despachou o primeiro e mais importante teste, que foi ver se estas cabiam verticalmente enroladas no andar de cima do Sol. Não couberam... ou seja: o Rodrigo vai ter de ficar no andar de baixo e a Sara no de cima; uma decisão aguardada há uma semana, e que agora deixa tudo em pratos limpos. Coincide com o despedimento do calor agreste. No fim da noite, em vez de mais álcool, acabámos a folhear um livro do Miró e a beber chá. 

​
Imagem
Imagem
Imagem
Imagem
imagens de Sara Rodrigues
Comentários

    Autores

    Rodrigo B. Camacho
    Sara Rodrigues

Powered by Create your own unique website with customizable templates.
  • sobre
  • about
  • diário
  • diary
  • contactos
  • contacts