Como combinado, dirigimo-nos de manhã ao Xarabanda para assistir a um ensaio de Carmina Belli, um projeto instigado por Tozé Cardoso, em que canta a Alexandra Barbosa e toca bateria o Miguel Rosado. Estão prestes a lançar o projeto ao público, por isso fiquem atentos! Ao acabar o ensaio, descemos com a Alexandra até à PIPINOIR, pois era a vez dela ser entrevistada pela Sara. No meio do inquérito, resgatou do banco de memórias duas músicas em inglês e uma brasileira de Fáfá de Belém, que costumava ouvir muito quando era pequenina. Como prometido, houve almoço de família. Subimos para Santo António para um verdadeiro simpósio Barbosa-Jardim na casa da Tia Anita. Como tinha sido já apontado como um dos sons proeminentes na memória da Mariana B. Camacho, o já tradicional ambiente destes encontros foi gravado pela Sara, com o telemóvel do Filipe. Houve muito barulho, conversas cruzadas, ataques de risos, boa disposição, piadas brejeiras, outras estapafúrdias, roncos dorminhocos, boa comida e por aí a diante… Já de volta à PIPINOIR, apareceu um rapaz que tinha vivido muitos anos em Paris. Está agora de volta e, tendo gostado muito de conhecer o projeto, disse que a Madeira precisa de mais coisas assim. Perguntámos-lhe se estava relacionado com música de alguma forma, ao que respondeu que não, mas disse-nos, com uma certeza vibrante, que gostava sempre de estar a par de que coisas fazem os agentes culturais. Outra visita inesperada foi a do Vitor Hugo, um rapaz de aperto de mão bem forte que conduz tuc-tucs pelo Funchal. Encontrou-nos durante uma divagação na sua pausa para almoço e adorou o espaço. Gostou muito do projeto e disse sinceramente que iria tentar trazer cá turistas, porque estes querem descobrir mais cultura local. No fim conversámos sobre cada um fazer a sua (p)arte, ele a dele e nós a nossa, nesta coisa chamada vida. Hoje foi ainda o dia de que tanto esperávamos para PINTAR O CHÃO DE BRANCO! Uma lata de tinta não chegou, por isso fomos comprar mais uma igual. Encontrámos o mesmo senhor que nos aconselhou a comprar desta qualidade na primeira vez e, como foi muito prestado e simpático, a afabilidade valeu-lhe um convite pessoal à próxima inauguração, a da peça "O Estado das Coisas" da Sara. Tendo acabado de pintar tudo de branco, apercebemo-nos de que as pessoas agora não conseguem evitar olhar para a PIPINOIR e perguntar o que se passa cá dentro quando passam na Rua dos Aranhas. É que se tornou verdadeiramente num género de supernova estrondosamente luminosa a meio de uma rua um tanto que baste escura, a puxar para tons alaranjados. Fotografia de Rui A. Camacho Fotografia de Sara Rodrigues
Hoje foi o dia do último workshop, o de Arte Sónica, Fonografia e Ecologia Acústica. Começámos com uma discussão sobre som; sobre o que é, sobre o que não é e sobre que diferenças existem entre tudo o que possa ser som e outros conceitos mais tradicionais do campo da música ocidental. Falámos de posições filosóficas e desenhámos um mapa relacional. Pensámos sobre as dimensões físicas, emocionais, afetivas, antropológicas, sociais e artísticas (da perspectiva das mais variadas práticas, desde música à composição com paisagem sonora) etc. Reparámos que, na verdade, não há linguagem verbal suficiente para se discutir com especificidade todo o mundo sonoro... As metáforas são muitas, as certezas são poucas. Gravámos as vozes dos participantes e fizemos experiências com os espectros de cada uma. Desvenda-se, ao fazer isso, o mundo harmónico que existe em cada som que produzimos e ouvimos, por mais simples que sejam. Ainda tentámos reconhecer a origem de cada uma das vozes gravadas, somente pelo timbre, privados do ecrã, que mostrava as faixas devidamente etiquetadas com os nossos nomes. O desafio era ir-se encurtando cada voz pouco a pouco, até ao ponto extremo em que só um pedacinho do primeiro fonema se ouvia. Depois de tanta densidade informativa, fomos para a rua, num passeio sónico que envolveu toda a gente numa caminhada pelo Funchal, concentrados no mundo sonoro que nos rodeia. O interesse residiu na busca pelas suas fontes, qualidades, comportamentos, formas e feitios. Descemos até ao mar e voltámos, pois o tempo já era pouco, mas a discussão que se gerou no fim foi interessantíssima. Cada um sentiu e ouviu coisas muito diferentes embora, no geral, todos tenhamos confluído sobre a importância da sensibilidade estética quotidiana. Ou seja, quanta atenção se dá aos pormenores do dia-a-dia. Print screen da sessão de gravação das vozes Fotografia de Rui A. Camacho
Acordámos cedo para ir gravar o mercado do peixe, levados pela memória que o Rui nos contou de lá ir quando era pequeno com o pai. Voltando para a PIPINOIR recebemos logo o Carlos Jorge, que ainda interpretou e descreveu o que se ouvia do mercado com a sua voz radiofónica. Apontou-nos para um monte de sons, lembrando-se ainda de várias canções, contudo cantou pouco. Entretanto, não é que viemos a descobrir que o Carlos Jorge afinal sabe, sim, tocar cordofones?! Pelo menos, o suficiente para demonstrar os seus dotes no bailinho! Indicou-nos no final um som convenientemente perto, mesmo na Rua dos Aranhas, do tempo em que se recalcetavam as pedras do chão sobre areia, e não sobre cimento como se faz agora. Descreveu sons tão percussivamente distintos, que concluiu que um dia ainda se devia fazer uma peça só dedicadas a estes! Depois veio o Roberto Moritz, que foi até agora o mais conciso. Chegou a tocar a sua famosa "Dança da Toutinegra" e uma malha de Pink Floyd, que adaptou na hora para o seu machetinho (feito pelo Carlos Jorge). Depois de nos despedirmos, passámos pela Rua das Mercês, pois era lá perto da casa do seu pai que se lembra de ouvir os amoladores de facas e tesouras, com as suas características flautas de canas para os chamamentos. Gravámos, como é óbvio, a ausência de tal som. Depois voltamos para o espaço para a Sara continuar as entrevistas. Já pela segunda vez, no regresso à porta de sempre, sentavam-se pessoas nos degraus da PIPINOIR. Que porta convidativa! Desta vez eram o Hugo e o seu filho Adei do País Basco. Entraram para uma "ante-estreia" e acabámos por ficar com um registo audiovisual experimental da autoria do Adei, que adorou manobrar a Sony grande angular durante uns minutos. Disse no fim que parecia que estávamos na televisão. Gravámos ainda a Fernanda que se fez ouvir com umas grandes referências de música vocal experimental bem marada dos anos 80! Disse ainda que tinha gostado muito de poder lembrar-se destas e de voltar a cantá-las, o que nos deixou muito felizes. Ficou marcado para um outro dia irmos ao seu trabalho, gravar um ribeirinho só possível de se ouvir depois de alguém nos dar acesso ao local do som escondido. Chegando perto das 19:00, preparou-se tudo para a inauguração de "Taxonomia", à qual vieram cerca de 50 pessoas, o que achamos ser muito bom, dado quão especial o grupo foi e visto que a casa ficou literalmente cheia! Houve família, amigos, estrangeiros e muita curiosidade. Estiveram cá as representantes do campo institucional da cultura no Funchal, Natércia Xavier da Direção Regional da Cultura e Sandra Nóbrega da Câmara Municipal do Funchal, que nos proporcionaram o financiamento do projeto. Este não teria sido possível de outra forma. Foi verdadeiramente uma casa variada e cheia de momentos e opiniões muito interessantes e enriquecedores. Fotografia de Rui A. Camacho Fotografias de Sara Rodrigues
Dormir aconteceu, mas não foi muito. Acordámos cedo pois tínhamos de ir gravar o mar para a Praia do Toco, lá perto do Lazareto. O pequeno almoço foi coberto de bocejos e de uma certa apatia matinal, contraposto por uma suspeita energia por parte do Rodrigo. Quando ele dorme perto de 5 horas apenas, fica muito espevitado mas depois lá para a tarde ameaça esmorecer sem aviso. Encarrapitados numa rocha do fundo da falésia, pareceu algo de altamente científico meterem-se dois fiozinhos pelo mar a dentro para o gravar, mas tratavam-se apenas de dois simples microfones de contacto ligados a um Zoom H6. Foi a Helena que nos levou à praia, que na realidade nunca lá tinha ido! Ficámos muito contentes com a introdução ao lugar e por percebermos que aquela era a praia mais incrivelmente curiosa do Funchal; com barracas de lata, quinquilharias penduradas sobre uma destas, incluindo pauzinhos e uma cabeça de boneca de plástico, e ainda galinhas e coelhos (infelizmente numa só gaiola) e um peru à solta, muito defensor do seu território. Obrigado Daniel! Voltando para o espaço, ainda salgados, encontramos a Paula Henriques para uma entrevista antes da hora de almoço. Pode-se dizer que teve direito a um verdadeiro "private view". À tarde gravámos o Rui Camacho. Entre o Xarabanda, os Vértice, os Algozes e várias memórias de infância, o Rui não foi tão extenso como tínhamos um certo receio que fosse. Parece que a nossa "lista negra" pode não vir a confirmar-se. A Sara, ao ouvir as gravações de volta, em busca pelas novas indicações sobre que lugares gravar no funchal, apercebeu-se de que fazer entrevistas a pessoas é uma ótima maneira de se aprender a fundo sobre coisas que passam depressa de mais em conversas sobre cultura. À noitinha, fizeram-se as últimas afinações para a "Taxonomia" para que ninguém se atropelasse demasiado. Fotografia de Mariana B. Camacho Fotografia de Rui A. Camacho
O dia começou com o trabalho do Rodrigo ainda instalado. Com a mudança de planos, ainda não pintámos o chão de branco mas a Sara foi já comprar um mapa do Funchal, para se guiar pelos sítios que irão ser referidos por cada participante na sua peça. Também se foi abastecer de baterias novas para o gravador de som. Tivemos o primeiro entrevistado, que veio em antecedência, até sem marcação, e tecnicamente em dia de montagem. Foi o Daniel Melim novamente, que já vai ter que voltar para Lisboa amanhã! Apesar da música não ser o seu foco artístico, como a pintura e o desenho o são, interessa-se muito pelas diferentes áreas da arte e pelo seu poder terapêutico. Ficámos ainda a saber que já participou em rituais xamânicos com cânticos que carregam consigo os espíritos de certas plantas sagradas! Depois, sem ter combinado, fomos todos juntos outra vez à Estalagem da Ponta do Sol, ouvir o Sérgio Godinho. Ainda tivemos trabalho de casa do Melim para amanhã, que referiu a Praia do Toco como o sítio no Funchal cujo som lhe está gravado na memória. Agora vamos nós lá com microfones de contacto gravar debaixo de água o calhau a rolar! Fotografia de Rui A. Camacho
À hora de almoço o Manuel ligou-nos a contar sobre o acidente que tinha acontecido de manhã na Festa do Monte. Aconselhou-nos a ponderar sobre adiar a inauguração para outro dia. Com o andamento muito ativo dos últimos preparativos, e sem saber bem como reagir, dirigimo-nos contudo para a PIPINOIR. Com a instalação de som afinada e com a comida e bebidas todas prontas no andar de baixo, às 5 da tarde recebemos um telefonema que nos informou de que tinha sido declarado luto regional de três dias. Tomando melhor conhecimento da gravidade e do impacto da situação e, em comprimento do luto, adiámos então a inauguração da "Taxonomia" para Sexta-Feira à mesma hora. Mandámos uma mensagem a toda a gente e ficámos só com um estranho peso no ar. Mesmo assim, decidimos permanecer no espaço para receber aqueles que, não sabendo do comunicdo, nos pudessem aparecer à porta. Dois deles foram o Mark, que é programador de software musical, e que dá aulas na Royal College of Arts da Hague na Holanda, e o Pau, artista visual que lecciona na Universidade da Madeira. Conversámos muito e, surpreendentemente, em Português com os dois. Fotografia de Mariana B. Camacho
á estamos habituados a dias que parecem dois mas este foi sem dúvida o dia mais lotado do projeto até hoje! Parece que toda a gente esperou até à última para gravar, e ao ver que a inauguração seria no dia seguinte, juntaram-se à festa. Começámos com o João Caldeira e com o Diogo Castro, que apareceram os dois vestidos de azul e com uma melódica na mão. Acabaram por escolher esboços diferentes mas que afinal tinham vindo da mesma peça, o "Jogo do Lobo"! O João reconstruiu uma música de que gosta, segundo um esquema de preparação dramatúrgica do material. Já o Diogo interpretou vários campos harmónicos relativos a momentos do jogo, com situações como poções de amor a serem atiradas por bruxas e votações em estilo de democracia direta a ver quem é que se manda linchar. A seguir chegou o Diogo, desta vez o Andrade, mas também com uma melódica! E nós que ainda não tínhamos tido nenhuma… Ficou bastante tempo a considerar o que fazer com tanto desenho, entre avançar com estruturas suas e perceber a fundo as do Rodrigo. Passou por ter desenvolvido coisas que tentámos enquadrar naquilo que a lona oferecia mas, no fim de tudo, acabámos por reparar num pequeno mas poderoso fragmento referente a modulações de pressão na produção vocal. Como a melódica é um "instrumento de voz", as indicações serviram que nem uma luva e ficámos todos contentes! A Joana Bolito, que vinha com o Diogo Andrade, teve muito tempo para considerar a sua participação e, quando chegou à sua vez, prontamente escolheu um texto; novamente sobre a rapariga meia iraniana meia iraquiana chamada Roxanna. Cantou num estilo de fado uma bonita melodia sobre ter nascido em Kingston; o de Londres, não o da Jamaica. O Daniel Melim trouxe-nos na sua voz uns sons mais aborígenes, com partes que faziam lembrar um didjeridu. O gráfico que escolheu era uma onda fluida mas ritmada, e assim foi a sua participação. O Roberto Moniz veio também bater outra vez à PIPINOIR, pois a sua gravação tinha ficado, uns dias antes, misteriosamente ruidosa. Desta vez, soltou-se ainda mais no despique do "abc", acabou por falar da avó e ainda nos ofereceu uma canção dos borracheiros. Quando achávamos que já tínhamos ouvido o suficiente, nisto entra o Zé Camacho com uma caixinha de surpresas. Depois de algumas cantorias ao Rajão, arranjou um gráfico com várias texturas, para introduzir sons que ainda não se tinham feito ouvir na 'Taxonomia'. Com patos, vacas, galinhas e muito mais, divertimento e energia foi o que não faltou, sempre acompanhado de umas boas estórias. Não mencionámos, porém, que o Zé trouxe um acompanhamento ainda mais surpreendente, o Mário André! Este chegou e disse que estava lá só para assistir ao Zé, mas claro que mais lá para a frente a conversa veio a ser outra... Entretanto, o Manuel Rodriguez, que já desde o início nos tinha prometido uma participação, sem perder mais tempo, pôs-se em cima de um escadote com a sua viola de arame quitada a tira-colo. Olhou para vários desenhos de longe e debruçou-se sobre algumas linhas, sonificando-as com interjeições de ponderação como "hum…" e "ahh…". Nisto, um grande debate abre-se sobre os temas mais variados nos campos da música e da arte. A páginas tantas, já estava o Manuel à viola em grandes improvisações com o Mário André e com o Rui Camacho na percussão. Ainda foram lá bater mais pessoas: um menino de oito anos que ainda tocou no pandeiro brasileiro, a Mariana Camacho, que se juntou a cantar e um Russo jurista internacional que ficou a ouvir. Nós, que realmente estávamos entretidos com a situação, eventualmente tivemos que decidir ausentar-nos e começar a implantar o resto dos camarões no teto, ato que anunciámos como "um concerto de noise-brocador". Com tudo isto, ficámos mais uma vez até às tantas da manhã, já sozinhos, a ver onde é que o som de cada participante, assim como cada altifalante, se iriam encaixar! Fotografias de Sara Rodrigues Fotografias de Rui A. Camacho
Hoje foi um dia reto e direto em que o Rodrigo se dedicou a completar a lona com a última coluna de fragmentos à direita. A umas duas horas do serviço ficar pronto, a Sara foi comer um gelado pois estava mesmo muito calor. Realmente, não havia mais que fazer na Pipinoir a não ser acabar o raio da lona. O "serviço" visual ficou pronto - para descompressão geral - mas ainda não se instalaram os altifalantes... fica para amanhã. Fotografia de Rui A. Camacho
Sábado foi um dia longuíssimo. Começámos logo de manhã cedo com o segundo workshop, de notação e interpretação. Mal acabámos de entrar, fomos novamente lá para fora, com atenção redobrada sobre os sons da Rua dos Aranhas, dos quais tentámos tomar nota. Primeiro, fizemo-lo de forma livre, mas entretanto fomos incorporando os sistemas de notação que foram emergindo das discussões de grupo. O dialogo contou ainda com a participação de um turista espanhol, o Roberto, que gosta muito de música contemporânea. Tínhamo-nos conhecido no dia anterior, quando nos disse que iria aparecer, mesmo tendo que se ir embora nesse mesmo dia! À tarde andámos por entre entre quadrados, triângulos e círculos para se aguçarem as capacidades composicionais e, para acabar, trabalhámos numa uma peça de grupo. Ao longo de várias etapas, cada um foi criando material granular que se viu processado pouco a pouco sobre uma grelha em papel A2. O resultado foi uma composição, que interpretámos várias vezes. Vimo-nos um pouco numa alhada, dada a complexidade que se gerou a nível harmónico, rítmico e textural. No fim do workshop ainda gravámos as duas Marianas. A Mariana Andrade trouxe pequenos instrumentos de percussão que cabiam numa mão. Interpretou (munida de efeitos de voz e tudo) um desenho que diminuía em tamanho gradualmente, com o título: ‘Percussão?’. A Mariana B. Camacho decidiu não utilizar a sua voz melodiosa; para pena da mãe. Leu com fonética portuguesa a transcrição (em inglês) de uma entrevista a uma rapariga que era meia Iraniana e meia Iraquiana, apesar de ter nascido em Inglaterra e não saber falar nenhuma das línguas das suas origens. Depois da Pipi Noir, conseguimos passar na exposição do nosso amigo Daniel Melim na Porta 33, que está a expôr uns desenhos solarengos e evocativos de que gostámos muito. O dia não ficou por aqui e ainda fomos à Ponta do Sol ao concerto da Anna Meredith na Estalagem, o qual vimos bem animados em cima de um dragoeiro. Ao voltar para o Funchal, a viagem não foi a mais direta. Ainda nos convenceram a ir ver as estrelas ao Paúl da Serra, só que a lua minguante ainda estava forte e privou-nos das constelações. O ponteiro da gasolina a bater na reserva foi acompanhado com algum medo e êxtase, para cima e para baixo, com um electro-despique a 3. O Melim intitulou-o de ‘Mixórdia’. Fotografias de Rui A. Camacho
Começamos o dia com uma visita inesperada da equipa do Teatro Baltazar Dias em peso, mostrando-se muito interessados em perceber como tudo se passava. Ficaram também bastante surpreendidos ao descobrir que a Sara, para a sua peça, irá pintar o chão de branco e fazer marcações sobre o mesmo, tendo que apagar todo o trabalho no fim para devolver o chão ao cinzento atual! O João Viveiros veio à tarde. Analisou vários fragmentos e perguntou sobre um, que tinha sido inspirado no Scrabble e funcionava segundo os princípios da termodinâmica. Acabou por se basear noutro, mais poético, com três linhas desenhadas a pincel, que o levaram a começar estrondosamente para depois ir tornando a textura cada vez mais rarefeita. Durante as gravações, ainda apareceu um senhor que nos descobriu através da agenda cultural da DRC e que nunca tinha vindo à Pipi Noir. Ficamos contentes por lhe dar as boas vindas. Por fim apareceu o Tiago Lopes, que, trazendo o seu rajão, improvisou com som de quase-harpa-antiga sobre um texto que fala de ‘Macaquinhos, Primatas em Vias de Depressão’, criado a partir da várias técnicas do OULIPO. O Tiago interessou-se pela busca de uma certa falta de intenção semântica, e explicou-nos que gosta de pensar na inevitabilidade dos acontecimentos, todos com forma própria, independentemente de planos e esquemas que os sustenham. No fim do dia ainda fomos a Santa Cruz ver os Punk D’Amour. Vestiram-se com mais percussão que o normal e foram bombardeados com luzes psicadélicas o tempo todo. Acima de tudo, como sempre, foram muito bons. Fotografias de Sara Rodrigues
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