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DIÁRIO DE BORDO

Grandes momentos

28/8/2017

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​Em reta final, veio cá o maior número de músicos que já tínhamos recebido num só dia até agora. Foram sete! De veras um dia cheio de emoções e surpresas que incluíram participações inesperadas.

O Emmanuel Mejía veio logo de manhã. Falou-nos de quando tinha cerca de seis anos ter começado a tocar percussão num grupo de música tradicional da Venezuela com o pai. Contou-nos que no decorrer de um ensaio, ele decidiu intuitivamente (e de forma não solicitada) pegar numa taça com sementes para acompanhar os adultos, e assim foi iniciado na banda. Atualmente gosta de ir para as zonas altas para poder estar com os amigos a tocar em improviso entre árvores e céu estrelado. 

Ficámos a saber que a Mariana Andrade prefere ser tratada pelo seu nome artístico - Mariana Pipocas - e que atualmente está no conservatório a estudar bateria jazz e piano clássico ao mesmo tempo! Cantou ainda a primeira música de infância de que se lembra. Com pequeno espanto nosso, ainda que curiosamente, cantou-nos ao pandeiro uma canção do projeto 'Nuno and the End', da autoria do seu pai Nuno Filipe.

O Rodrigo (B. Camacho), apesar de ser mais conhecido pelas suas composições, revelou em entrevista passar o dia a cantar em improviso na sua casa em Londres, que tivemos que representar em modo de seta centrífuga a norte no mapa da peça. Tocou desde Mozart a Ravel no piano mas concluiu com uma queda bem acentuada para a música dos borracheiros que estranhamente tanto sente como sua. Imitou ainda a cacofonia que é a da família da Mariana (sua irmã) em hora de almoço. 

As músicas do Zeca Afonso foram, curiosamente, as primeiras que o João Viveiros começou a tocar, ouvido-as às escondidas num gira discos em casa dum amigo vizinho. Admite que só mais tarde percebeu que aquelas eram letras de intervenção política, o que pensamos ter vindo a influenciar fortemente o seu trabalho futuro, visto ter escrito letras com intenções próximas para a banda Algozes, da qual ele e outros dos entrevistados também faziam parte (como o Rui e a Helena).

Dias anteriores tínhamos sucintamente conhecido a Natacha Gonçalves, que passara descomprometidamente cá pela rua, mas que nesse mesmo instante tínhamos convencido a participar. Hoje, falou-nos do seu primeiro momento de performance em público em que, no festival infantil do Funchal, cantou uma música que o pai tinha especificamente escrito não só para ela mas também sobre ela mesma. 'Quando for grande é que poderei ser artista!' cantava. Contou-nos ainda das suas primeiras memórias a ouvir os discos de vinil que o pai tinha dos Beatles (entre outros) e das lembranças de que tem de adormecer às horas que lhe apetecia ao som de free jazz! Ainda dedicou uma outra canção ao seu pai, José António Gonçalves, do qual tem muitas memórias e uma grande saudade. Foi num ambiente emocionado se despediu de nós, quando todos concordámos que às vezes as coisas que acontecem ao acaso acabam por ser muito especiais, isto é, se soubermos nos entregar aos momentos que a vida nos oferece pelo caminho.

Já à noitinha chegou a Lidiane Duailibi que, sem sabermos, vinha acompanhada do Norberto Gonçalves da Cruz. Este ficou a ouvir a entrevista da Lidiane, que contou ter vindo para a Madeira do Brasil, procurando uma deslocação geográfica drástica. Contudo, a bossa nova ficou sempre consigo. Cantou com voz doce e falou-nos no seu projecto 'bossa livre', que tem com o Norberto, com o Nuno Filipe e com o Jorge Maggiore, em que usam as suas influências particulares para criar um mundo sonoro novo. Hoje em dia dedica-se também a sessões de terapia musical com mulheres, usado a técnica e a expressão vocal como meio para a expansão e libertação da personalidade e para a recuperação, ou mesmo construção e aumento da auto confiança. 

Depois desta viagem musical e geográfica, conseguimos com algum esforço trazer o Norberto para a cadeira do entrevistado, e ficámos a saber do seu percurso desde a Venezuela até cá, com memórias das partituras lindas que o avô tinha guardadas num saquinho de tecido e que tocava diariamente. Naquele tempo, diz, o avô ainda não tinha meios para usufruir dos métodos de reprodução de música gravada, por isso tocava-as. Falou-nos dos seus tempos de conservatório em Láquila, e de quando era solista no Teatro La Scala, mas concluiu dizendo que hoje em dia gosta mais da ideia de ser viajante do que turista ao navegar pela música, acrescentando que esta poderia ser uma atitude a ser adotada por muitos músicos. Disse que o silêncio também é importante, assim como o são a improvisação e a experimentação com vários instrumentos. Acredita que estas faculdades trazem ao músico outras liberdades. Pedimos-lhe que demonstrasse qualquer coisa numa guitarra que havia cá no espaço. Não sem alguma contenção, concordou em fazê-lo mas disse, após uma vigorosa e estonteante performance, que 'não é mesmo assim que se toca guitarra'. Nós cá ficamos deliciados com os seus dotes rítmicos. Concluímos com o som que acha ser mais marcante no Funchal, e de que gosta veramente; o camião do lixo a passar, deixando a solene notícia de que a cidade por fim relaxa e vai dormir.
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Stills de gravação escolhidos por Sara Rodrigues
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    Autores

    Rodrigo B. Camacho
    Sara Rodrigues

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